terça-feira, 22 de setembro de 2009

ORAGO E ARRAIAL: SANTA BÁRBARA (4 Dezembro)


1 comentário:

  1. De hoje em diante, José,
    a ternura, o esforço,
    o Abril nítido repetido;
    até quando, secreto sonho,
    acordar o enigma a nos matar.
    -
    Alegria profunda,
    eis a verdade,
    um menino inclinado
    prà parede.
    -
    Som ante a mesa, lisa frieza,
    manhã jornal, povo espaço,
    percorrendo-se.
    -
    O amante dos tapetes
    convive com as noites.
    O apaixonado das águas
    ressona profundamente.
    -
    Adormecida
    a longa tarde,
    na chinfrineira
    do bar me afundo.
    -
    Largo de Jesus
    à chuva dum Verão,
    distanciando-se a
    pequena mão
    da menininha,
    num aceno ao pai,
    que resolve
    pasmos estremecidos.
    -
    Pena é
    que a agenda aponte as emergências,
    o contínuo divertimento, mas não a determinação.
    -
    La Chanson des Vieux Amants,
    enquanto explode um sol pelo afogueado Ribatejo da CP,
    antes alheia, te dás, e acompanhas-me,
    prece ensonada, coração dolente:
    Vivemos, lentamente, o que em disfarce nos foge,
    tanto quanto a ânsia alcança:
    A aventura, a viagem.
    Quando os bravos pinheiros deixam antever o azul,
    e a melodia morre-se, e os gestos se desvanecem.
    -
    Poesia
    insinuas,
    se horror
    te domina?
    -
    Uma, duas flores lilás,
    num retrato da infância,
    na carteira de trazer;
    a lâmpada incidindo
    na cara entalada,
    a sombra rodando
    sobre a mesa;
    o segmento talhado rigorosamente,
    o aparo, à amarga indiferença;
    a nuca é um ponto muito vivo,
    disse, e voltou-se, o amigo;
    os braços doem,
    o psiquiatra é um senhor
    envergonhado.
    -
    ‘He was a friend of mine.
    He never knew my name...’
    Ir a outros dias,
    sinos tangendo,
    chilrar dúbio
    na madrugada,
    seguir a teimar paz.
    -
    Deparando-se com
    erros sintácticos,
    sem se importar com a testa,
    sem literatura,
    o último poeta evidentemente escreve:
    Meu país, morto sol, pão exangue,
    poema exílio, dolorida mágoa,
    fúria térrea, doido amor,
    neve ardendo em mãos estafadas.
    -
    À sombra de árvore
    alguém descansa,
    bambinos sumindo-se
    pra denro da folhagem.
    -
    Dentro,
    ouço e
    sento-me;
    retoma-se
    a movimentos
    espaçados
    a mesma
    imensa mesa.
    -
    A tarde toda o avô contava histórias.
    Aturdidos, ensonados, na infância dos sonhos,
    devorávamos o mel à narrativa, que sempre concluía:
    ’Inda além vai a raposa, a correr a sete pés!
    O avô apontava para um longe.
    Meus olhos arregalavam-se
    para o mais pra lá da abrasada varanda:
    Eram montes sobre montes,
    insolados, quentes, graves dorsos,
    arrasando-os maravilhada aridez.

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