De hoje em diante, José, a ternura, o esforço, o Abril nítido repetido; até quando, secreto sonho, acordar o enigma a nos matar. - Alegria profunda, eis a verdade, um menino inclinado prà parede. - Som ante a mesa, lisa frieza, manhã jornal, povo espaço, percorrendo-se. - O amante dos tapetes convive com as noites. O apaixonado das águas ressona profundamente. - Adormecida a longa tarde, na chinfrineira do bar me afundo. - Largo de Jesus à chuva dum Verão, distanciando-se a pequena mão da menininha, num aceno ao pai, que resolve pasmos estremecidos. - Pena é que a agenda aponte as emergências, o contínuo divertimento, mas não a determinação. - La Chanson des Vieux Amants, enquanto explode um sol pelo afogueado Ribatejo da CP, antes alheia, te dás, e acompanhas-me, prece ensonada, coração dolente: Vivemos, lentamente, o que em disfarce nos foge, tanto quanto a ânsia alcança: A aventura, a viagem. Quando os bravos pinheiros deixam antever o azul, e a melodia morre-se, e os gestos se desvanecem. - Poesia insinuas, se horror te domina? - Uma, duas flores lilás, num retrato da infância, na carteira de trazer; a lâmpada incidindo na cara entalada, a sombra rodando sobre a mesa; o segmento talhado rigorosamente, o aparo, à amarga indiferença; a nuca é um ponto muito vivo, disse, e voltou-se, o amigo; os braços doem, o psiquiatra é um senhor envergonhado. - ‘He was a friend of mine. He never knew my name...’ Ir a outros dias, sinos tangendo, chilrar dúbio na madrugada, seguir a teimar paz. - Deparando-se com erros sintácticos, sem se importar com a testa, sem literatura, o último poeta evidentemente escreve: Meu país, morto sol, pão exangue, poema exílio, dolorida mágoa, fúria térrea, doido amor, neve ardendo em mãos estafadas. - À sombra de árvore alguém descansa, bambinos sumindo-se pra denro da folhagem. - Dentro, ouço e sento-me; retoma-se a movimentos espaçados a mesma imensa mesa. - A tarde toda o avô contava histórias. Aturdidos, ensonados, na infância dos sonhos, devorávamos o mel à narrativa, que sempre concluía: ’Inda além vai a raposa, a correr a sete pés! O avô apontava para um longe. Meus olhos arregalavam-se para o mais pra lá da abrasada varanda: Eram montes sobre montes, insolados, quentes, graves dorsos, arrasando-os maravilhada aridez.
De hoje em diante, José,
ResponderEliminara ternura, o esforço,
o Abril nítido repetido;
até quando, secreto sonho,
acordar o enigma a nos matar.
-
Alegria profunda,
eis a verdade,
um menino inclinado
prà parede.
-
Som ante a mesa, lisa frieza,
manhã jornal, povo espaço,
percorrendo-se.
-
O amante dos tapetes
convive com as noites.
O apaixonado das águas
ressona profundamente.
-
Adormecida
a longa tarde,
na chinfrineira
do bar me afundo.
-
Largo de Jesus
à chuva dum Verão,
distanciando-se a
pequena mão
da menininha,
num aceno ao pai,
que resolve
pasmos estremecidos.
-
Pena é
que a agenda aponte as emergências,
o contínuo divertimento, mas não a determinação.
-
La Chanson des Vieux Amants,
enquanto explode um sol pelo afogueado Ribatejo da CP,
antes alheia, te dás, e acompanhas-me,
prece ensonada, coração dolente:
Vivemos, lentamente, o que em disfarce nos foge,
tanto quanto a ânsia alcança:
A aventura, a viagem.
Quando os bravos pinheiros deixam antever o azul,
e a melodia morre-se, e os gestos se desvanecem.
-
Poesia
insinuas,
se horror
te domina?
-
Uma, duas flores lilás,
num retrato da infância,
na carteira de trazer;
a lâmpada incidindo
na cara entalada,
a sombra rodando
sobre a mesa;
o segmento talhado rigorosamente,
o aparo, à amarga indiferença;
a nuca é um ponto muito vivo,
disse, e voltou-se, o amigo;
os braços doem,
o psiquiatra é um senhor
envergonhado.
-
‘He was a friend of mine.
He never knew my name...’
Ir a outros dias,
sinos tangendo,
chilrar dúbio
na madrugada,
seguir a teimar paz.
-
Deparando-se com
erros sintácticos,
sem se importar com a testa,
sem literatura,
o último poeta evidentemente escreve:
Meu país, morto sol, pão exangue,
poema exílio, dolorida mágoa,
fúria térrea, doido amor,
neve ardendo em mãos estafadas.
-
À sombra de árvore
alguém descansa,
bambinos sumindo-se
pra denro da folhagem.
-
Dentro,
ouço e
sento-me;
retoma-se
a movimentos
espaçados
a mesma
imensa mesa.
-
A tarde toda o avô contava histórias.
Aturdidos, ensonados, na infância dos sonhos,
devorávamos o mel à narrativa, que sempre concluía:
’Inda além vai a raposa, a correr a sete pés!
O avô apontava para um longe.
Meus olhos arregalavam-se
para o mais pra lá da abrasada varanda:
Eram montes sobre montes,
insolados, quentes, graves dorsos,
arrasando-os maravilhada aridez.